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Sexualidade na Terceira Idade

claudiovalentin

Artigo publicado na edição 2 da Revista IBDFAM (agosto de 2013)

A incidência de Aids em pessoas com mais de 60 anos de idade aumentou 26% na última década no Estado de São Paulo. Por outro lado, entre os jovens, os novos casos de Aids diminuíram 35% no mesmo período. Esses dados da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo revelam muitas coisas. Dentre elas, que a sexualidade começa com a vida e termina com a morte, ou seja, é da ordem do desejo e se manifesta de formas variadas em todas as idades; que pessoas acima de 60 anos têm vida sexual ativa. Sinal de vida. Revelam, acima de tudo, o preconceito diante da sexualidade fora da faixa etária da juventude.

Numa sociedade excludente, em que se cultua o corpo jovem, as pessoas com mais de 60 anos são esquecidas pelo poder público em suas campanhas de saúde para combater a Aids. Toda sua propaganda de prevenção é dirigida a um público jovem, como se as pessoas mais velhas não tivessem sexualidade. Apesar da Lei 8.842/94 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e do Estatuto do Idoso, lei 10741/2003, serem textos normativos modernos, politicamente corretos e vêm para resgatar a dignidade das pessoas da chamada terceira idade, ainda há preconceitos a serem vencidos. O primeiro deles é o flagrante equívoco da concepção sobre a sexualidade. Talvez, o equívoco e a falta de visibilidade dessa sociedade excludente estejam no fato de que as pessoas com mais de 60 anos já não fazem parte da engrenagem da produção política e econômica.

Diante desse fato, e por inúmeros outros motivos, é que as pessoas nessa idade são ignoradas e, portanto, excluídas das campanhas do Ministério da Saúde, das secretarias municipais e estaduais de Saú- de em todas as campanhas de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis. É incompreensível que, há mais de cem anos, após Freud ter revelado uma outra noção de sexualidade, o governo continue ignorando e excluindo de suas campanhas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis pessoas que já não são mais jovens. Enquanto houver desejo haverá vida, enquanto houver vida haverá sexualidade. Ela pode até sofrer variações e adaptações em razão das mudanças do corpo, mas só se extingue com a vida. Até porque ela é a energia vital que nos faz produzir, trabalhar, chorar, ter alegria, enfim, é a energia libidinal que faz movimentar a vida, expressando-se de várias maneiras, seja por meio do trabalho e de outras formas, e também pelo ato sexual.

Se o Estatuto do Idoso e a Lei 8.842/94, que trata da Política Nacional do Idoso, e suas determina- ções de implantação das políticas públicas fossem cumpridas por todos, principalmente pelo Poder Público, na área da saúde, o número de casos de Aids na terceira idade certamente diminuiria. Contudo, para além desse foco especí- fico, o Estatuto do Idoso, para não virar letra morta, precisa ser efetivamente implementado e fazer parte das políticas públicas, gerando respeito e dignidade a essas pessoas que, de certa forma, já deram sua parcela de contribuição à sociedade, mas que ainda carregam consigo a energia vital e podem contribuir para que tenhamos uma sociedade mais justa e solidária. É preciso, portanto, atribuir-lhes um lugar de sujeito de direito e de desejo para saírem da invisibilidade social.

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